Bitcoin: Como fazer autocustódia em meio a altas taxas de transação

Saiba como contornar as altas taxas de transação do Bitcoin e manter a autocustódia do seu ativo.

No início deste ano, a invenção de uma nova forma de registrar dados e emitir tokens na blockchain do Bitcoin, os chamados Ordinals, foi responsável por uma febre que causou um aumento vertiginoso nas taxas de transação da rede do Bitcoin.

No momento da redação deste artigo, a taxa média paga pelas transações era de cerca de 30 reais. Ao longo deste guia, abordamos algumas formas efetivas de contornar essa situação.

Enviar bitcoin tem um preço. Muito embora esse custo possa ser consideravelmente pequeno, ele pode chegar a patamares elevados quando muitas transações aguardam confirmação, já que sua camada base só é capaz de processar 7 transações por segundo. Essa limitação é intencional, a fim de permitir que qualquer pessoa possa participar do processo de validação da rede.

Ao comprar bitcoin numa corretora, o ideal é sacá-lo diretamente para uma carteira sem conexão à internet. As opções mais populares do mercado são as carteiras de hardware desenvolvidas pelas empresas Trezor e Ledger. 

Para valores elevados, a segurança que esse tipo de armazenamento oferece justifica o pagamento de algumas taxas. Entretanto, para valores menores, muitos usuários acabam preferindo deixar suas preciosas moedas sob a custódia das corretoras, já que transferi-las seria muito custoso.

Por sorte, existem algumas soluções que se propõem a resolver esse problema, oferecendo transações consideravelmente mais baratas e rápidas:

Lightning Network

Defendida por muitos como a principal solução para as limitações de processamento do Bitcoin, a Lightning é uma rede de pagamentos em segunda camada construída sobre ele. Através de contratos inteligentes, canais podem ser abertos entre pares, permitindo transações gratuitas e quase instantâneas. Se não houver um canal entre o remetente e o destinatário, é possível rotear a transação através de outros canais, o que custa uma pequena taxa.

Carteiras Lightning custodiais

Como é preciso ter uma infraestrutura dedicada e sempre online para receber pagamentos, a maioria dos usuários dessa rede acaba optando por carteiras custodiais, que tomam conta de toda a parte técnica e permitem uma experiência fluida até mesmo para os usuários mais iniciantes. Porém, há um grande problema: a empresa por trás da carteira possui o controle dos valores depositados nela.

Recentemente, a carteira custodial mais popular do mundo anunciou do dia para a noite que seu aplicativo não estaria mais disponível para download nos Estados Unidos, sem dar maiores explicações. Muito embora seus usuários ainda pudessem movimentar seus fundos, é importante ter ciência de que não se deve deixar muito dinheiro na mão de custodiantes, a fim de evitar tragédias como a perda de bilhões de dólares de clientes da falida FTX

Dica: use carteiras custodiais apenas para armazenar pequenas quantias de bitcoin. Quando tiver um pouco mais, envie para soluções mais seguras.

Pontos positivos: facilidade na utilização, baixo custo para transacionar.

Pontos negativos: o desenvolvedor da carteira tem o controle das suas moedas, da mesma forma que uma corretora. 

Carteiras Lightning não custodiais 

Por sorte, existem carteiras Lightning não custodiais excelentes. Apesar de ainda lidarem com (quase) toda a parte técnica para o usuário, elas permitem que ele seja o único possuidor das suas chaves privadas, garantindo que apenas ele seja capaz de movimentar seus fundos.

Um dos melhores exemplos dessas carteiras é a Phoenix Wallet. Basta receber bitcoin por ela que um canal de pagamento será aberto, permitindo que se utilize a rede Lightning para enviar e receber valores. Como essa abertura requer uma transação efetuada na camada base, seu valor será descontado desse serviço, o que pode ser caro. 

Dica: ao receber bitcoins para abrir o canal, envie uma quantia relativamente grande para a Phoenix, como 500 reais. O canal aberto será apenas um pouco maior do que o valor recebido, e aumentar sua capacidade incorre novamente em taxas de mineração. Para evitar isso, basta enviar a maior parte desse valor para uma outra carteira (ou corretora), garantindo uma margem bem grande para transacionar nessa rede sem precisar de mais liquidez.

Pontos positivos: controle total sobre os fundos, baixo custo para transacionar.

Pontos negativos: a abertura e o aumento da capacidade do canal podem ser caros. 

Liquid Network

A Liquid, por sua vez, é uma sidechain do Bitcoin. Isso significa que, diferentemente da Lightning, ela tem uma blockchain própria, o que permite enviar e receber bitcoins sem a necessidade de estar online ou possuir uma infraestrutura dedicada.

Entretanto, isso também tem seu preço: a rede não é totalmente descentralizada. Ela foi criada por uma empresa chamada Blockstream, e seu funcionamento é controlado por 15 membros que compõem a Federação Liquid, responsáveis pela validação das transações. Para evitar ataques e garantir a segurança da rede, é necessária a aprovação de dois terços dos validadores para que os blocos sejam confirmados.

Para usar a rede Liquid, os usuários devem baixar carteiras compatíveis com ela. A mais popular é a Green Wallet, desenvolvida pela própria Blockstream. Com o intervalo entre blocos de apenas 1 minuto, a utilização da Liquid é bastante familiar para quem já transacionou na rede Bitcoin, com a vantagem de ser bem mais rápida e barata.

Pontos positivos: facilidade no uso, baixo custo para transacionar.

Pontos negativos: não se tem o controle total sobre os fundos, muito embora o risco de contraparte esteja distribuído em 15 participantes, sendo necessário o conluio de 10 deles para comprometer a segurança dos seus bitcoins. 

Afinal de contas, o que fazer?

Ao fim e ao cabo, cada uma dessas redes possui pontos negativos e positivos, e a escolha da melhor forma de utilizá-las é uma questão pessoal que deve ser decidida pelo usuário. 

Entretanto, existe um esquema bem simples que funciona bem na maior parte dos casos: sacar valores pequenos através da Lightning, consolidar montantes um pouco maiores na Liquid e, por fim, guardar quantias mais elevadas na rede original do Bitcoin. 

Alguns exemplos de corretoras que permitem saques e depósitos via Lightning Network são a Binance e a brasileira Bipa. A Bipa, inclusive, além de oferecer saques gratuitos nessa modalidade, estende essa gratuidade também para o saque de bitcoin na camada base, embora seja necessário esperar até 24 horas para que ele seja realizado.

Para fazer a ponte entre as redes Bitcoin, Lightning e Liquid, pode-se utilizar a exchange descentralizada Boltz. Com uma taxa de 0,5% + taxas de rede, esse serviço é uma mão na roda para aumentar a eficiência na gestão dos seus bitcoins.  

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